Galera, no site de treinamento da Folha tem um infográfico sobre o acidente da TAM feito pelo El País. Vale a pena conferir... e ler o comentário do Fábio Marra, editor de arte da Folha.
novoemfolha.folha@uol.com.br
domingo, 29 de julho de 2007
terça-feira, 24 de julho de 2007
A vida que ninguém vê
Segue uma das melhores histórias do livro A vida que ninguém vê da Eliane Brum intitulada História de um olhar. Nesse livro, estão as crônicas publicadas na coluna "crônicas-reportagens" do jornal Zero Hora, em 1999. Eliane Brum foi convidada para desvendar as grandes histórias da vida comum. Como resultado, ganhou o Prêmio Esso Regional de 99.
Eu amei o livro!!! E espero que vocês gostem da reportagem também!
Omundo é salvo todos os dias por pequenos gestos. Diminutos, invisíveis. O mundo é salvo pelo avesso da importância. Pelo antônimo da evidência. O mundo é salvo por um olhar. Que envolve e afaga. Abarca. Resgata. Reconhece. Salva.
Inclui.
sta é a história de um olhar. Um olhar que enxerga. E por enxergar, reconhece. E por reconhecer, salva.
Esta é a história do olhar de uma professora chamada Eliane Vanti e de um andarilho chamado Israel Pires.
Um olhar que nasceu na Vila Kephas. Dizem que, em grego, kephas significa pedra. Por isso um nome tão singular para uma vila de Novo Hamburgo. Kephas foi inventada mais de uma década atrás pedra sobre pedra. Em regime de mutirão. Eram operários da indústria naqueles tempos nada longínquos. Hoje, desempregados da indústria. Biscateiros, papeleiros. Excluídos.
Nesta Kephas cheia de presságios e de misérias vagava um rapaz de 29 anos com o nome de Israel. Porque em todo lugar, por mais cinzento, trágico e desesperançado que seja, há sempre alguém ainda mais cinzento, trágico e desesperançado. Há sempre alguém para ser chutado por expressar a imagem-síntese, renegada e assustadora, do grupo. Israel, para a Vila Kephas, era esse ícone. O enjeitado da vila enjeitada. A imagem indesejada no espelho.
Imundo, meio abilolado, malcheiroso, Israel vivia atirado num canto ou noutro da vila. Filho de pai pedreiro e de mãe morta, vivendo em uma casa cheia de fome com a madrasta e uma irmã doente. Desregulado das idéias, segundo o senso comum. Nascido prematuro, mas sem dinheiro para diagnóstico. Escorraçado como um cão, torturado pelos garotos maus. Amarrado, quase violado. Israel era cuspido. Era apedrejado. Israel era a escória da escória.
Um dia Israel se aproximou de um menino. De nove anos, chamado Lucas. Olhos de amêndoa, rosto de esconderijo.Bom de bola. Bom de rua. De tanto gostar do menino que lhe sorriu, Israel o seguiu até a escola. Até a porta onde Lucas desaparecia todas as tardes, tragado sabe-se lá por qual magia. Até a porta onde as crianças recebiam cucas e leite. Israel chegou até lá por fome. De comida, de afago, de lápis de cor. Fome de olhar.
Aconteceu neste inverno. Eliane, a professora, descobriu Israel. Desajeitado, envergonhado, quase desaparecido dentro dele mesmo. Um vulto, um espectro na porta da escola. Com um sorriso inocente e uns olhos de vira-lata pidão, dando a cara para bater porque nunca foi capaz de escondê-la.
Eliane viu Israel. E Israel se viu refletido no olhar de Eliane. E o que se passou naquele olhar é um milagre de gente. Israel descobriu um outro Israel navegando nas pupilas da professora. Terno, especial, até meio garboso. Israel descobriu nos olhos da professora que era um homem, não um escombro.
Capturado por essa irresistível imagem de si mesmo, Israel perseguiu o olho de espelho da professora. A cada dia dava um passo para dentro do olhar. E quando perceberam, Israel estava no interior da escola. E, quando viram, Israel estava na janela da sala de aula da 2ª série C. Com meio corpo para dentro do olhar da professora.
Uma cena e tanto. Israel na janela, espiando para dentro. Cantando do lado de fora, desenhando com os olhos. Quando o chamavam, fugia correndo. Escondia-se atrás dos prédios. Mas devagar, como bicho acuado, que de tanto apanhar ficou ressabiado, foi pegando primeiro um lápis, depois um afago. E, num dia de agosto, Israel completou a subversão. Cruzou a porta e pintou bonecos de papel. Israel estava todo dentro do olhar da professora.
E o olhar começou a se espalhar, se expandir, e engolfou toda a sala de aula. A imagem se multiplicou por 31 pares de olhos de crianças. Israel, o pária, tinha se transformado em Israel, o amigo. Ganhou roupas, ganhou pasta, ganhou lápis de cor. E, no dia seguinte, Israel chegou de banho tomado, barba feita, roupa limpa. Igualzinho ao Israel que havia avistado no olho da professora. Trazia até umas pupilas novas, enormes, em forma de facho. E um sorriso também recém-inventado. Entrou na sala onde a professora pintava no chão e ela começou a chorar. E as lágrimas da professora, tal qual um vagalhão, terminaram de lavar a imagem acossada, ferida, flagelada de Israel.
Israel, capturado pelo olhar da professora, nunca mais o abandonou. Vive hoje nesse olhar em formato de sala de aula, cercado por 31 pares de olhos de infância que lhe contam histórias, puxam a mão e lhe ensinam palavras novas. Refletido por esses olhos, Israel passou a refletir todos eles. E a professora, que andava deprimida e de mal com a vida, descobriu-se bela, importante, nos olhos de Israel. E as crianças, que têm na escola um intervalo entre a violência e a fome, descobriram-se livres de todos os destinos traçados nos olhos de Israel.
Israel, não importa se alguém não gosta de você. O que importa é que você siga a vida, aconselha Jéferson, de oito anos. Israel, não faz mal que tu sejas grande e um pouco doente, tu podes fazer tudo o que tu imaginares, promete Greice, de nove. Israel, se alguém te atirar uma pedra eu vou chamar o Vandinho, porque todo mundo tem medo do Vandinho, tranqüiliza Lucas, nove. Israel, tu me botas na garupa no recreio?
E foi assim que o olhar escorreu pela escola e amoleceu as ruas de pedra.
Israel, depois que se descobriu no olhar da professora, ganhou o respeito da vila, a admiração do pai. Vai ganhar uma vaga oficial na escola. Já consegue escrever o “P” de professora. E ninguém mais lhe atira pedras. A professora, depois que se descobriu no olhar de Israel, ri sozinha e chora à toa. Parou de reclamar da vida e as aulas viraram uma cantoria. A redenção de Israel foi a revolução da professora .
Em 7 de Setembro, Israel desfilou. Pintado de verde-amarelo, aplaudido de pé pela Vila Pedra.
Eu amei o livro!!! E espero que vocês gostem da reportagem também!
Omundo é salvo todos os dias por pequenos gestos. Diminutos, invisíveis. O mundo é salvo pelo avesso da importância. Pelo antônimo da evidência. O mundo é salvo por um olhar. Que envolve e afaga. Abarca. Resgata. Reconhece. Salva.
Inclui.
sta é a história de um olhar. Um olhar que enxerga. E por enxergar, reconhece. E por reconhecer, salva.
Esta é a história do olhar de uma professora chamada Eliane Vanti e de um andarilho chamado Israel Pires.
Um olhar que nasceu na Vila Kephas. Dizem que, em grego, kephas significa pedra. Por isso um nome tão singular para uma vila de Novo Hamburgo. Kephas foi inventada mais de uma década atrás pedra sobre pedra. Em regime de mutirão. Eram operários da indústria naqueles tempos nada longínquos. Hoje, desempregados da indústria. Biscateiros, papeleiros. Excluídos.
Nesta Kephas cheia de presságios e de misérias vagava um rapaz de 29 anos com o nome de Israel. Porque em todo lugar, por mais cinzento, trágico e desesperançado que seja, há sempre alguém ainda mais cinzento, trágico e desesperançado. Há sempre alguém para ser chutado por expressar a imagem-síntese, renegada e assustadora, do grupo. Israel, para a Vila Kephas, era esse ícone. O enjeitado da vila enjeitada. A imagem indesejada no espelho.
Imundo, meio abilolado, malcheiroso, Israel vivia atirado num canto ou noutro da vila. Filho de pai pedreiro e de mãe morta, vivendo em uma casa cheia de fome com a madrasta e uma irmã doente. Desregulado das idéias, segundo o senso comum. Nascido prematuro, mas sem dinheiro para diagnóstico. Escorraçado como um cão, torturado pelos garotos maus. Amarrado, quase violado. Israel era cuspido. Era apedrejado. Israel era a escória da escória.
Um dia Israel se aproximou de um menino. De nove anos, chamado Lucas. Olhos de amêndoa, rosto de esconderijo.Bom de bola. Bom de rua. De tanto gostar do menino que lhe sorriu, Israel o seguiu até a escola. Até a porta onde Lucas desaparecia todas as tardes, tragado sabe-se lá por qual magia. Até a porta onde as crianças recebiam cucas e leite. Israel chegou até lá por fome. De comida, de afago, de lápis de cor. Fome de olhar.
Aconteceu neste inverno. Eliane, a professora, descobriu Israel. Desajeitado, envergonhado, quase desaparecido dentro dele mesmo. Um vulto, um espectro na porta da escola. Com um sorriso inocente e uns olhos de vira-lata pidão, dando a cara para bater porque nunca foi capaz de escondê-la.
Eliane viu Israel. E Israel se viu refletido no olhar de Eliane. E o que se passou naquele olhar é um milagre de gente. Israel descobriu um outro Israel navegando nas pupilas da professora. Terno, especial, até meio garboso. Israel descobriu nos olhos da professora que era um homem, não um escombro.
Capturado por essa irresistível imagem de si mesmo, Israel perseguiu o olho de espelho da professora. A cada dia dava um passo para dentro do olhar. E quando perceberam, Israel estava no interior da escola. E, quando viram, Israel estava na janela da sala de aula da 2ª série C. Com meio corpo para dentro do olhar da professora.
Uma cena e tanto. Israel na janela, espiando para dentro. Cantando do lado de fora, desenhando com os olhos. Quando o chamavam, fugia correndo. Escondia-se atrás dos prédios. Mas devagar, como bicho acuado, que de tanto apanhar ficou ressabiado, foi pegando primeiro um lápis, depois um afago. E, num dia de agosto, Israel completou a subversão. Cruzou a porta e pintou bonecos de papel. Israel estava todo dentro do olhar da professora.
E o olhar começou a se espalhar, se expandir, e engolfou toda a sala de aula. A imagem se multiplicou por 31 pares de olhos de crianças. Israel, o pária, tinha se transformado em Israel, o amigo. Ganhou roupas, ganhou pasta, ganhou lápis de cor. E, no dia seguinte, Israel chegou de banho tomado, barba feita, roupa limpa. Igualzinho ao Israel que havia avistado no olho da professora. Trazia até umas pupilas novas, enormes, em forma de facho. E um sorriso também recém-inventado. Entrou na sala onde a professora pintava no chão e ela começou a chorar. E as lágrimas da professora, tal qual um vagalhão, terminaram de lavar a imagem acossada, ferida, flagelada de Israel.
Israel, capturado pelo olhar da professora, nunca mais o abandonou. Vive hoje nesse olhar em formato de sala de aula, cercado por 31 pares de olhos de infância que lhe contam histórias, puxam a mão e lhe ensinam palavras novas. Refletido por esses olhos, Israel passou a refletir todos eles. E a professora, que andava deprimida e de mal com a vida, descobriu-se bela, importante, nos olhos de Israel. E as crianças, que têm na escola um intervalo entre a violência e a fome, descobriram-se livres de todos os destinos traçados nos olhos de Israel.
Israel, não importa se alguém não gosta de você. O que importa é que você siga a vida, aconselha Jéferson, de oito anos. Israel, não faz mal que tu sejas grande e um pouco doente, tu podes fazer tudo o que tu imaginares, promete Greice, de nove. Israel, se alguém te atirar uma pedra eu vou chamar o Vandinho, porque todo mundo tem medo do Vandinho, tranqüiliza Lucas, nove. Israel, tu me botas na garupa no recreio?
E foi assim que o olhar escorreu pela escola e amoleceu as ruas de pedra.
Israel, depois que se descobriu no olhar da professora, ganhou o respeito da vila, a admiração do pai. Vai ganhar uma vaga oficial na escola. Já consegue escrever o “P” de professora. E ninguém mais lhe atira pedras. A professora, depois que se descobriu no olhar de Israel, ri sozinha e chora à toa. Parou de reclamar da vida e as aulas viraram uma cantoria. A redenção de Israel foi a revolução da professora .
Em 7 de Setembro, Israel desfilou. Pintado de verde-amarelo, aplaudido de pé pela Vila Pedra.
domingo, 22 de julho de 2007
Ruy Castro
Obs.: O Ruy Castro não precisa de apresentações. Este artigo vai especialmente para a nossa confrade Lu Maragão, a carioquinha da turma
Folha de S.Paulo - 21 de Julho
Terra, mar e ar
RIO DE JANEIRO - Se o leitor está a ponto de vir ao Rio para o Pan, como atleta, cartola ou torcedor, e tem alimentado uma típica paranóia sobre sua segurança, saiba pelo menos de uma coisa: não há a menor possibilidade de o amigo sofrer um atentado por terra, mar ou ar.
Desde o início dos jogos, e por toda a duração do Pan, a Aeronáutica baniu as asas-delta e os parapentes que decolavam das rampas da Pedra Bonita, em São Conrado, e coalhavam lindamente o céu sobre as praias das zonas sul e oeste cariocas. Ficou também proibido saltar de pára-quedas, pilotar ultraleves e alugar helicópteros civis para passeios, mesmo que apenas para adejar ao redor do Cristo. (O bondinho do Pão de Açúcar, por enquanto, continua liberado.)
Por que tudo isso? Pela segurança. Mas segurança de quem? Algum atleta brasileiro, hondurenho ou de Trinidad e Tobago corre o risco de um atentado vindo do céu?A vigilância não se restringe à interdição do espaço aéreo sobre as arenas. Na Lagoa, palco das competições de remo e canoagem, os pedalinhos em forma de cisne foram estacionados na altura do Cantagalo e de lá não saem, para evitar que um solerte terrorista se aproveite da candura do veículo e, pedalando mansamente, vá alvejar algum remador de Antígua e Barbuda.
No Parque Aquático Maria Lenk, um repórter teve seu sanduíche de salada de atum confiscado pela segurança. Na marina da Glória, o alvo foi um frasquinho de Lavolho. E, no Complexo do Autódromo, um pai teve de lamber o Danoninho de sua filha para provar que aquilo não era uma bomba química. Tal e qual nos aeroportos.
Tudo isso, claro, são imposições dos EUA. Graças às lambanças do governo americano, seus pobres atletas não têm sossego em lugar nenhum e, com isso, o mundo inteiro é suspeito de odiá-los.
Folha de S.Paulo - 21 de Julho
Terra, mar e ar
RIO DE JANEIRO - Se o leitor está a ponto de vir ao Rio para o Pan, como atleta, cartola ou torcedor, e tem alimentado uma típica paranóia sobre sua segurança, saiba pelo menos de uma coisa: não há a menor possibilidade de o amigo sofrer um atentado por terra, mar ou ar.
Desde o início dos jogos, e por toda a duração do Pan, a Aeronáutica baniu as asas-delta e os parapentes que decolavam das rampas da Pedra Bonita, em São Conrado, e coalhavam lindamente o céu sobre as praias das zonas sul e oeste cariocas. Ficou também proibido saltar de pára-quedas, pilotar ultraleves e alugar helicópteros civis para passeios, mesmo que apenas para adejar ao redor do Cristo. (O bondinho do Pão de Açúcar, por enquanto, continua liberado.)
Por que tudo isso? Pela segurança. Mas segurança de quem? Algum atleta brasileiro, hondurenho ou de Trinidad e Tobago corre o risco de um atentado vindo do céu?A vigilância não se restringe à interdição do espaço aéreo sobre as arenas. Na Lagoa, palco das competições de remo e canoagem, os pedalinhos em forma de cisne foram estacionados na altura do Cantagalo e de lá não saem, para evitar que um solerte terrorista se aproveite da candura do veículo e, pedalando mansamente, vá alvejar algum remador de Antígua e Barbuda.
No Parque Aquático Maria Lenk, um repórter teve seu sanduíche de salada de atum confiscado pela segurança. Na marina da Glória, o alvo foi um frasquinho de Lavolho. E, no Complexo do Autódromo, um pai teve de lamber o Danoninho de sua filha para provar que aquilo não era uma bomba química. Tal e qual nos aeroportos.
Tudo isso, claro, são imposições dos EUA. Graças às lambanças do governo americano, seus pobres atletas não têm sossego em lugar nenhum e, com isso, o mundo inteiro é suspeito de odiá-los.
Walter Ceneviva
Obs.: O Walter Ceneviva é, como nossa amiga Marilene Polastro, advogado, mas também conseguiu a façanha de também ser jornalista.
Folha de S.Paulo - 21 de julho
Até quando?
O costume das companhias e das autoridades de manter descompasso com a verdade nos levou à descrença final
ENQUANTO PASSAGEIRO RELATIVAMENTE freqüente de nossas companhias aéreas, sinto-me credenciado como uma espécie de procurador informal de todos os meus companheiros de sofrimento para perguntar: até quando as autoridades e as empresas continuarão abusando de nossa paciência, fazendo-nos vítimas inocentes com sua omissão e sua incompetência? Confesso que não tenho originalidade, pois Marco Túlio Cícero, orador romano, nascido cerca de um século antes de Cristo, já perguntava até quando Catilina abusaria da paciência de Roma. Cícero terminou por sufocar, com sua palavra fluente, as ações de Catilina.
A esperança dos clientes da aviação brasileira é a de que empresas e autoridades parem de contar lorotas e definitivamente ponham um fim nos erros e deficiências do transporte aéreo, que geram tantas vítimas.
Para medir as responsabilidades governamentais é preciso ir à Constituição. Em matéria de viagens aéreas, os maiores encargos recaem sobre os órgãos federais, tanto no alusivo à Carta Magna, quanto ao Código Brasileiro de Aeronáutica. O papel principal é desempenhado por uma empresa federal (a Infraero), cabendo-lhe, num resumo muito restrito, as questões de terra, com aeroportos e sua operação. Com o Ministério da Aeronáutica ficam as questões de controle de vôo, entre outras missões. Na cúpula da administração se acha o presidente da República, ao qual o artigo 85 atribui responsabilidade pelo cumprimento das leis. O artigo 84 enuncia a competência privativa do chefe do Executivo para "exercer, com o auxílio dos Ministros de Estado, a direção superior da administração federal". O presidente é o responsável mediato, pois os envolvidos diretamente são seus subordinados, a contar do ministro da Defesa e do comandante da Aeronáutica.
Na administração pública, nada do que acontece hoje -ou quase nada- surge por obra dos atuais ocupantes de altos cargos. Nossos políticos assumem a atitude pouco séria de se afirmar responsáveis por eventuais sucessos, mas de responsabilizar seus antecessores por falhas constatadas. Isso explica as reformas em aeroportos embelezados, pois nos impressionam -a nós, os basbaques que passamos por eles-, mas sem a mesma aplicação na segurança essencial, mais importante que tudo. Só percebemos a omissão em uma crise grave, como nesta semana.
A omissão, pondo nossa paciência à prova, levou ao que se tem chamado de "apagão", palavra simplória que não retrata as horas passadas à espera dos vôos, sem satisfação dada, rápida e verdadeira, aos consumidores do serviço aéreo. O costume das companhias e das autoridades de manter permanente descompasso com a verdade nos levou à descrença final. Nada de que digam é acolhido serenamente. Abusaram muito da nossa paciência. É chegada a hora de pararem com isso. De se desnudarem quanto aos fatos, em modo claro, direto e, se possível, honesto. "Quousque tandem abutere patientia nostra?", perguntaria Cícero.
O governo tem punido sargentos. Funcionários das empresas têm sido agredidos por passageiros revoltados. São os fracos respondendo pelos erros dos fortes. Não é o que a cidadania responsável quer, mas vai ter de ir à luta, para mudar. Quantas mortes mais serão necessárias?
Folha de S.Paulo - 21 de julho
Até quando?
O costume das companhias e das autoridades de manter descompasso com a verdade nos levou à descrença final
ENQUANTO PASSAGEIRO RELATIVAMENTE freqüente de nossas companhias aéreas, sinto-me credenciado como uma espécie de procurador informal de todos os meus companheiros de sofrimento para perguntar: até quando as autoridades e as empresas continuarão abusando de nossa paciência, fazendo-nos vítimas inocentes com sua omissão e sua incompetência? Confesso que não tenho originalidade, pois Marco Túlio Cícero, orador romano, nascido cerca de um século antes de Cristo, já perguntava até quando Catilina abusaria da paciência de Roma. Cícero terminou por sufocar, com sua palavra fluente, as ações de Catilina.
A esperança dos clientes da aviação brasileira é a de que empresas e autoridades parem de contar lorotas e definitivamente ponham um fim nos erros e deficiências do transporte aéreo, que geram tantas vítimas.
Para medir as responsabilidades governamentais é preciso ir à Constituição. Em matéria de viagens aéreas, os maiores encargos recaem sobre os órgãos federais, tanto no alusivo à Carta Magna, quanto ao Código Brasileiro de Aeronáutica. O papel principal é desempenhado por uma empresa federal (a Infraero), cabendo-lhe, num resumo muito restrito, as questões de terra, com aeroportos e sua operação. Com o Ministério da Aeronáutica ficam as questões de controle de vôo, entre outras missões. Na cúpula da administração se acha o presidente da República, ao qual o artigo 85 atribui responsabilidade pelo cumprimento das leis. O artigo 84 enuncia a competência privativa do chefe do Executivo para "exercer, com o auxílio dos Ministros de Estado, a direção superior da administração federal". O presidente é o responsável mediato, pois os envolvidos diretamente são seus subordinados, a contar do ministro da Defesa e do comandante da Aeronáutica.
Na administração pública, nada do que acontece hoje -ou quase nada- surge por obra dos atuais ocupantes de altos cargos. Nossos políticos assumem a atitude pouco séria de se afirmar responsáveis por eventuais sucessos, mas de responsabilizar seus antecessores por falhas constatadas. Isso explica as reformas em aeroportos embelezados, pois nos impressionam -a nós, os basbaques que passamos por eles-, mas sem a mesma aplicação na segurança essencial, mais importante que tudo. Só percebemos a omissão em uma crise grave, como nesta semana.
A omissão, pondo nossa paciência à prova, levou ao que se tem chamado de "apagão", palavra simplória que não retrata as horas passadas à espera dos vôos, sem satisfação dada, rápida e verdadeira, aos consumidores do serviço aéreo. O costume das companhias e das autoridades de manter permanente descompasso com a verdade nos levou à descrença final. Nada de que digam é acolhido serenamente. Abusaram muito da nossa paciência. É chegada a hora de pararem com isso. De se desnudarem quanto aos fatos, em modo claro, direto e, se possível, honesto. "Quousque tandem abutere patientia nostra?", perguntaria Cícero.
O governo tem punido sargentos. Funcionários das empresas têm sido agredidos por passageiros revoltados. São os fracos respondendo pelos erros dos fortes. Não é o que a cidadania responsável quer, mas vai ter de ir à luta, para mudar. Quantas mortes mais serão necessárias?
Artigos e artigos
Queridos Confrades,
A partir de hoje tentarei colocar alguns textos de jornalistas que admiro. Sei que vai parecer que quero apenas encher o blog com artigos, mas acho que este espaço é para isto mesmo. Sei também que muitas pessoas não tem paciência de ler tudo o que é colocado aqui, mas também acho que "o que abunda não prejudica".
Abraços em todos
A partir de hoje tentarei colocar alguns textos de jornalistas que admiro. Sei que vai parecer que quero apenas encher o blog com artigos, mas acho que este espaço é para isto mesmo. Sei também que muitas pessoas não tem paciência de ler tudo o que é colocado aqui, mas também acho que "o que abunda não prejudica".
Abraços em todos
domingo, 15 de julho de 2007
Interessante
Um passeio pelo Glicério, no coração de São Paulo
Uma reportagem com números e relatórios não precisa ser chata e massuda.
Leia com atenção o texto de Paulo Totti "Glicério, o submerso retalho da Liberdade" publicado quinta-feira, 12/7, na página A16 do “Valor Econômico” (a versão online do texto é aberta só para assinantes, mas o Totti e o Valor deixaram a gente colocar a íntegra aqui).
É um exemplo de reportagem bem apurada e bem escrita.
A pauta, as deficiências do atendimento público pré-escolar, não é nova. Mas o tratamento que Totti dá para o assunto merece uma leitura reflexiva sobre a sintonia que deve haver entre apuração e texto. É o tipo de pauta que normalmente conduz a reportagens cheias de estatísticas, citações de relatórios oficiais e aspas. Um saco.
A reportagem de Totti, além de bem pesquisada e documentada, está enriquecida com o testemunho do repórter. Ele estudou o assunto (não é necessariamente um especialista) e foi a campo, gastou sola de sapato e não se limitou a entrevistas óbvias e dados frios. Suas observações pessoais humanizam o assunto. O texto nos carrega pelo Glicério e pela Liberdade, na capital paulista, e nos faz parar para pensar na importância da pré-escola.
Exercício: tente distinguir neste texto os recursos de apuração (pesquisa, entrevista, observação, documentação) utilizados pelo repórter. E observe bem como ele trabalhou as informações que tinha com a condução do texto.
site: http://novoemfolha.folha.blog.uol.com.br/
Uma reportagem com números e relatórios não precisa ser chata e massuda.
Leia com atenção o texto de Paulo Totti "Glicério, o submerso retalho da Liberdade" publicado quinta-feira, 12/7, na página A16 do “Valor Econômico” (a versão online do texto é aberta só para assinantes, mas o Totti e o Valor deixaram a gente colocar a íntegra aqui).
É um exemplo de reportagem bem apurada e bem escrita.
A pauta, as deficiências do atendimento público pré-escolar, não é nova. Mas o tratamento que Totti dá para o assunto merece uma leitura reflexiva sobre a sintonia que deve haver entre apuração e texto. É o tipo de pauta que normalmente conduz a reportagens cheias de estatísticas, citações de relatórios oficiais e aspas. Um saco.
A reportagem de Totti, além de bem pesquisada e documentada, está enriquecida com o testemunho do repórter. Ele estudou o assunto (não é necessariamente um especialista) e foi a campo, gastou sola de sapato e não se limitou a entrevistas óbvias e dados frios. Suas observações pessoais humanizam o assunto. O texto nos carrega pelo Glicério e pela Liberdade, na capital paulista, e nos faz parar para pensar na importância da pré-escola.
Exercício: tente distinguir neste texto os recursos de apuração (pesquisa, entrevista, observação, documentação) utilizados pelo repórter. E observe bem como ele trabalhou as informações que tinha com a condução do texto.
site: http://novoemfolha.folha.blog.uol.com.br/
sexta-feira, 13 de julho de 2007
Dicas dos Trainees da Folha de S. Paulo
Ai, que medo!
A partir de hoje, os ex-trainees começam sua vida no jornal. Divido com os leitores deste blog algumas recomendações que fiz a eles.
Coisas que vocês podem fazer nas primeiras semanas:
Não entendeu o que o editor pediu? Pergunte. Não saia de lá sem entender.
Entendeu na hora, mas depois ficou em dúvida? Consulte um colega, o assistente, o adjunto e, se ainda estiver inseguro, volte a falar com o editor.
O pauteiro passou uma pauta e você não sabe por onde começar? Pergunte para o pauteiro. Além disso, peça ajuda aos repórteres que costumam cobrir essa área. Outra coisa que ajuda muito: olhe no arquivo matérias semelhantes e veja que informações elas trazem e de que fonte elas partem.
Grave, grave, grave. Grave tudo. Não dá pra prever declarações polêmicas. Grave.
Não gravou e o cara disse algo complicado? Ligue de novo, desta vez gravando, e repita a pergunta.
Grave, mas não se fie só na fita. 1) ela pode ficar ruim; 2) dá muito trabalho e leva muito tempo transcrever. Anote.
A apuração está muito atrasada? Avise logo o editor. Não deixe para a última hora.
Não sabe qual é o lide da sua história? Peça ajuda pra um colega mais experiente.
Nenhum colega à volta? Imagine que vai contar a história pra um amigo: como você começaria?
Ainda inseguro sobre o lide? De novo, olhar reportagens já publicadas sobre o tema podem ajudar a pensar no que é mais notícia.
Dúvidas na hora de escrever? Consulte o professor de português, o melhor redator da equipe, sua tia professora de redação.
Dúvidas na hora de fechar? Na emergência, peça ajuda a um redator experiente. Depois, pela mais aulas.
Acordou no dia seguinte? Leia seu jornal e os concorrentes. Veja como eles deram o mesmo assunto.
Para melhorar sempre: leia jornal todo dia; cultive suas fontes; mande seus textos para alguém de confiança criticar; mantenha contato com colegas experientes; nunca perca uma oportunidade de aprender.
PS - ter medo é normal. É até saudável. É um aviso de que há cuidados que devemos tomar. A diferença é esta: ter medo, só, não adianta. É preciso tomar os tais cuidados.
A partir de hoje, os ex-trainees começam sua vida no jornal. Divido com os leitores deste blog algumas recomendações que fiz a eles.
Coisas que vocês podem fazer nas primeiras semanas:
Não entendeu o que o editor pediu? Pergunte. Não saia de lá sem entender.
Entendeu na hora, mas depois ficou em dúvida? Consulte um colega, o assistente, o adjunto e, se ainda estiver inseguro, volte a falar com o editor.
O pauteiro passou uma pauta e você não sabe por onde começar? Pergunte para o pauteiro. Além disso, peça ajuda aos repórteres que costumam cobrir essa área. Outra coisa que ajuda muito: olhe no arquivo matérias semelhantes e veja que informações elas trazem e de que fonte elas partem.
Grave, grave, grave. Grave tudo. Não dá pra prever declarações polêmicas. Grave.
Não gravou e o cara disse algo complicado? Ligue de novo, desta vez gravando, e repita a pergunta.
Grave, mas não se fie só na fita. 1) ela pode ficar ruim; 2) dá muito trabalho e leva muito tempo transcrever. Anote.
A apuração está muito atrasada? Avise logo o editor. Não deixe para a última hora.
Não sabe qual é o lide da sua história? Peça ajuda pra um colega mais experiente.
Nenhum colega à volta? Imagine que vai contar a história pra um amigo: como você começaria?
Ainda inseguro sobre o lide? De novo, olhar reportagens já publicadas sobre o tema podem ajudar a pensar no que é mais notícia.
Dúvidas na hora de escrever? Consulte o professor de português, o melhor redator da equipe, sua tia professora de redação.
Dúvidas na hora de fechar? Na emergência, peça ajuda a um redator experiente. Depois, pela mais aulas.
Acordou no dia seguinte? Leia seu jornal e os concorrentes. Veja como eles deram o mesmo assunto.
Para melhorar sempre: leia jornal todo dia; cultive suas fontes; mande seus textos para alguém de confiança criticar; mantenha contato com colegas experientes; nunca perca uma oportunidade de aprender.
PS - ter medo é normal. É até saudável. É um aviso de que há cuidados que devemos tomar. A diferença é esta: ter medo, só, não adianta. É preciso tomar os tais cuidados.
Para o conhecimento geral....
CONCURSO DE MONOGRAFIAS, DISSERTAÇÕES DE MESTRADO
E TESES DE DOUTORAMENTO - 1ª EDIÇÃO
Inscrições de 13/07 a 05/09/2007
TRABALHOS
Serão consideradas, para efeitos desta edição do Concurso, todas as monografias, dissertações e teses defendidas e aprovadas em caráter final entre 13 de julho de 1990 (data da entrada em vigor do Estatuto da Criança e do Adolescente) e 13 de julho de 2007;
Poderão ser inscritos trabalhos defendidos em quaisquer áreas do conhecimento – entretanto, serão priorizados aqueles aprovados formalmente em departamentos vinculados a cursos de jornalismo e/ou comunicação, seja na graduação ou pós-graduação;
PREMIAÇÃO
Para as 3 (três) categorias de trabalhos acadêmicos serão concedidos os seguintes prêmios em dinheiro aos vencedores:
a) Na categoria tese de doutoramento:
1º Lugar - R$ 8.000,00;
2º Lugar - R$ 4.000,00;
3º Lugar - R$ 2.000,00;
b) Na categoria dissertação de mestrado:
1º Lugar - R$ 4.000,00;
2º Lugar - R$ 2.000,00;
3º Lugar - R$ 1.000,00;
c) Na categoria monografia de graduação:
1º Lugar - R$ 1.600,00;
2º Lugar - R$ 800,00;
3º Lugar - R$ 400,00;
QUEM PODE PARTICIPAR
Podem concorrer às premiações estudantes ou profissionais, de qualquer nacionalidade, que tenham defendido um trabalho acadêmico em curso - de graduação, mestrado ou doutorado - devidamente reconhecido pelo Ministério da Educação (MEC) em qualquer Instituição de Ensino Superior Brasileira; ou, excepcionalmente, teses de doutorado e dissertações de mestrado defendidas por brasileiros em universidades estrangeiras.
INSCRIÇÕES
As inscrições para o Concurso de Monografias, Dissertações e Teses ocorrerão de 13/07 a 05/09 de 2007. É necessário realizar uma pré-inscrição on-line, no sítio do Programa InFormação (http://www.informacao.andi.org.br/). Posteriormente deve-se enviar à Coordenação de Relações Acadêmicas da ANDI, até o dia 06 de setembro de 2007 (valendo a data de postagem), os trabalhos em sua versão integral, conforme as regras definidas no Edital do concurso.
RESULTADOS
Os contemplados serão conhecidos até o dia 15 de outubro de 2007, podendo ser antecipado o resultado;
CONHEÇA O EDITAL
Acesse o Edital de Premiação completo na página eletrônica do Programa InFormação (acesse o Edital aqui), na seção “Concurso de Monografias, Dissertações e Teses”.
Participe!
quinta-feira, 12 de julho de 2007
Vale a pena Saber....
10/07/2007
Bolsas internacionais para jornalistas brasileiros
O Fundo Americano para Estudos está recrutando jornalistas para o Euro-Med Journalism Institute, que este ano ocorre em Atenas, de 29 de setembro a 7 de outubro. Os selecionados receberão uma bolsa para participar do evento. Inscrições vão até o dia 15 de julho e devem ser feitas pelo site www.tfasinternational.org.
O governo britânico abriu inscrições para o Programa Chevening de Bolsas de Estudo. Ele é voltado para o profissional em início de carreira que queira se aperfeiçoar no Reino Unido. São concedidas 50 bolsas para o programa em tempo integral, com até 12 meses, incluindo jornalismo. O prazo final para cadastro é 31 de julho, pelo www.britishcouncil. org/br/brasil- education- chevening. htm.
fonte: http://novoemfolha.folha.blog.uol.com.br/
Bolsas internacionais para jornalistas brasileiros
O Fundo Americano para Estudos está recrutando jornalistas para o Euro-Med Journalism Institute, que este ano ocorre em Atenas, de 29 de setembro a 7 de outubro. Os selecionados receberão uma bolsa para participar do evento. Inscrições vão até o dia 15 de julho e devem ser feitas pelo site www.tfasinternational.org.
O governo britânico abriu inscrições para o Programa Chevening de Bolsas de Estudo. Ele é voltado para o profissional em início de carreira que queira se aperfeiçoar no Reino Unido. São concedidas 50 bolsas para o programa em tempo integral, com até 12 meses, incluindo jornalismo. O prazo final para cadastro é 31 de julho, pelo www.britishcouncil. org/br/brasil- education- chevening. htm.
fonte: http://novoemfolha.folha.blog.uol.com.br/
Ter ou não ter...eis a questão
Galera,
Quero saber se vai ter encontro nessa sexta, onde vai ser e a que horas? Semana passada eu não fui porque meu irmão sofreu um acidente de moto na madrugada de quinta para sexta e eu fiquei super enrolada além de ter ficado muito chateada. Mas ainda assim, havia cumprido com o meu combinado de marcar nossa visita no Jardim Botânico....
Fico aguardando um alô e a participação de vocês....grupo seleto!
Beijos,
Quero saber se vai ter encontro nessa sexta, onde vai ser e a que horas? Semana passada eu não fui porque meu irmão sofreu um acidente de moto na madrugada de quinta para sexta e eu fiquei super enrolada além de ter ficado muito chateada. Mas ainda assim, havia cumprido com o meu combinado de marcar nossa visita no Jardim Botânico....
Fico aguardando um alô e a participação de vocês....grupo seleto!
Beijos,
segunda-feira, 9 de julho de 2007
FLIP 2007
GENTE: Essa entrevista me fez lembrar as insistentes teclas que o Walter sempre bate. Leiam e vejam como pensa o jornalista mais conceituado da atualidade. Incrível!É uma entrevista do jornalista da folha de S. Paulo, Marcelo Tas, com o jornalista e escritor Robert Fisk, na FLIP deste ano. Fisk é correspondente internacional do jornal inglês, The Independent.PS. NEGRITEI AS PARTES QUE CONSIDEREI MAIS RELEVANTE."meu encontro com Robert Fisk, o "animal furioso"O celular toca enquanto entro na Pousada do Ouro, britanicamente no horário combinado, para o encontro com o jornalista e escritor inglês Robert Fisk. É a funcionária da editora que o publica no Brasil impaciente com a minha ausência. Rimos aliviados um diante do outro com os telefones em punho.Ele já vai descer, ela diz, foi trocar de camisa. Confesso um certo receio da missão de entrevistar o “correspondente internacional britânico mais famoso do mundo”, conforme sentenciou o The New York Times, jornal com o qual Fisk já travou brigas homéricas.O próprio Times já o descreveu como um “animal furioso”. Fisk não tem filhos e vive em Beirute, onde é correspondente do jornal inglês The Independent. Há 30 anos, acompanha conflitos pelo mundo. Já cobriu a revolução islâmica no Irã, o conflito Irã-Iraque, a guerra do Golfo, do Kosovo, a invasão do Iraque e o recente conflito entre Israel e Líbano.Estava ainda inquieto buscando com os olhos um lugar tranquilo para gravar a entrevista quando surge às minhas costas o velhinho espevitado, olhos faiscantes azuis e com um gesto rápido tira o chapéu de palha que estou usando na Flip para proteger minha careca.- Nice hat!- Thank you, Mr. Fisk.Coloca meu chapéu em sua cabeça, mas não permite que eu o fotografe naquele figurino de caiçara. Comenta que tem o mesmo problema que eu, é cabeçudo. Por isso sabe o valor de se encontrar um bom chapéu.Conversamos durante uma hora sem interrupções. A não ser por algumas gargalhadas compartilhadas na tranquilidade da manhã de sol no jardim interno da pousada. Apesar de conviver diariamente com a morte e a tragédia, Fisk cultiva com disciplina o discreto e cortante humor inglês sempre afiado.Segue-se o resumo da conversa:Marcelo Tas: Nelson Rodrigues, escritor brasileiro homenageado na Flip, dizia: “As manchetes dos jornais não dão conta de reconhecer a catástrofe do mundo atual”. Você concorda com ele?Robert Fisk: Os jornais geralmente tratam os assuntos, especialmente a guerra, como um jogo de futebol. Concedem 50% do tempo para cada adversário. Mas a guerra não é um jogo de futebol. Se eu fosse contar a história do tráfico de escravos africanos para o Brasil deveria dar 50% de espaço para os traficantes de escravos expressar suas opiniões? E também outro tanto para os nazistas?Uma guerra é pura dor. Já estive num corredor de hospital em Bagdá com o chão “inundado” por três centímetros de sangue. Vi uma criança sem perna com sua mãe ao lado segurando seu braço decepado. Junto delas, um soldado iraquiano com o olho perfurado. Era um soldado do exército que defendia Saddam Hussein. A guerra é o fracasso da civilização.Por isso não acredito em jornalismo de manchetes. Não se pode brincar com a guerra. A imprensa numa hora dessas pode ser uma arma letal. Como foi o The New York Times que apoiou a invasão do Iraque por George Bush. O mesmo jornal disse que no Independent cobrimos o Oriente Médio como animais furiosos. Fiquei muito feliz com essa condecoração (risos).Tas: Você está conseguindo desfrutar do seu tempo livre em Paraty? Como compara esses dias aqui com sua rotina em sua casa em Beirute, no Líbano?Fisk: (um pouco ríspido) Eu não estou em férias em Paraty. Trabalho o tempo todo, como se estivesse em qualquer outro lugar do mundo, como correspondente do Independent no Oriente Médio. Saio muito pouco do quarto. Trouxe na bagagem caixas com documentos que uso para este trabalho.Tas: Você carrega papéis ao invés de tê-los no computador ou buscá-los na internet?Fisk: Eu não uso internet.Tas: O que você está dizendo?Fisk: Nem internet, nem e-mail. Uso intensamente apenas o celular. As pessoas me acham qualquer hora em qualquer parte do mundo. É um celular da companhia telefônica de Beirute. O Líbano tem um excelente sistema de comunicação. A internet atrapalha o jornalista. Com o Google, ao invés de ir direto a fonte, você lê o que fulano escreveu sobre o que sicrano disse que alguém disse. É um jornalismo digressivo.Um amigo jornalista já me criticou dizendo que abria pela manhã a internet. E depois de três horas já tinha lido o The New York Times, Corriere de la Sera, El País, The Guardian… Eu disse, meu querido, enquanto você lia eu já realizei três entrevistas com pessoas diferentes e sei muito mais sobre o que está acontecendo no mundo que você.Tas: Como você encontra equilíbrio para viver o tempo todo viajando entre países em guerra?Fisk: Tenho mais horas de vôo por ano que muitos pilotos internacionais. Não sei mais o que é jet lag. Vivo permanentemente nele. O segredo é usar sempre os mesmos hotéis e a mesma companhia aérea. Assim você vai formando uma certa família de conhecidos que está sempre em movimento. Por exemplo, eu decidi que se possível eu só uso a Air France. Os caras tem a melhor comida de bordo do mundo. Conheço todas as tripulações. Mal sento na poltrona e a chefe de cabine já vem soprar no meu ouvido: Mr. Fisk, não se preocupe, após a decolagem, já sirvo o seu gin tônica (risos).Tas: Onde estava você no dia 11 de Setembro?Fisk: Justamente dentro de um avião embarcando para os Estados Unidos. O chefe do vôo me chamou e perguntou: Robert, o que está acontecendo? Fiquei o vôo inteiro, usando o telefone via satélite da cabine, apurando os fatos. Desde o primeiro minuto, eu disse. É o ataque. Ditei o artigo para o The Independent da cabine da Air France.Tas: Você já esteve com Bin Laden. Conseguiu enxergar algum traço de amor e compaixão nos olhos dele?Fisk: Você quer um lado bom em Bin Laden? É complicado. Ele vive no deserto de sua mente. Literalmente. Vive dentro de uma caverna. E é importante que se diga, lendo livros muito importantes. Apresentou-me seus principais auxiliares e o local onde vive com suas três mulheres.É extremamente auto-confiante e dono da verdade, o que não o deixa muito distante de Bush ou Blair (risos). Um dos líderes da Al Qaeda me perguntou, por que eu quis ser jornalista? Eu disse: porque eu me interesso pela verdade. Ele disse: então você não quer ser jornalista; quer é ser muçulmano (risos).PS: livros mais recentes de Robert Fisk lançados no Brasil: "A grande guerra pela civilização" e "Pobre Nação", sobre as guerras do Líbano.
quinta-feira, 5 de julho de 2007
PARA REFLETIR...
CHACINAS NA MÍDIAJornalismo e a violência fashion
Por José Paulo Lanyi em 3/7/2007
Pense comigo, ao analisar estas duas notícias:
1. Chacina em São Paulo deixa seis mortos e um ferido
"A nona chacina deste ano na capital – e a segunda maior – aconteceu na madrugada deste sábado, na Avenida Paulista, região central da cidade. Sete rapazes, que conversavam junto a algumas motocicletas, foram obrigados por um grupo a colocar as mãos ao alto e encostar-se em uma parede no Masp. Em seguida, os criminosos dispararam contra todos, atingindo a maioria na cabeça. Eles foram socorridos no Hospital das Clínicas, onde seis não resistiram e acabaram morrendo. Uma das vítimas foi baleada apenas nas costas e sobreviveu. "
2. Chacina em São Paulo deixa seis mortos e um ferido
"A nona chacina deste ano na capital – e a segunda maior – aconteceu na madrugada deste sábado, na Rua Bittencourt da Silva, na Vila Albertina, zona norte. Sete rapazes, que conversavam junto a algumas motocicletas, foram obrigados por um grupo a colocar as mãos ao alto e encostar-se em uma parede. Em seguida, os criminosos dispararam contra todos, atingindo a maioria na cabeça. Eles foram socorridos no Hospital do Mandaqui, onde seis não resistiram e acabaram morrendo. Uma das vítimas foi baleada apenas nas costas e sobreviveu."
Qual a diferença entre os dados objetivos de uma e os da outra informação? O local. Nada mais do que isso.
A primeira foi inspirada na segunda e é uma evidente peça de ficção. Não fosse, o país inteiro estaria estarrecido e irremediavelmente consternado em meio à profusão de notícias e análises sobre esse episódio.
A segunda é real e foi publicada com a Agência EFE pelo portal do Estadão. Neste exato instante em que escrevo, é apenas a terceira em ordem de importância no site, abaixo da manchete, "Neblina e pane em radar causam atrasos em aeroportos de SP", e de outra chamada sobre segurança, "Força Nacional continuará no Rio após o Pan, diz secretário".
Na Folha Online, também vem em terceiro lugar, sob o título "Chacina deixa 6 mortos e um ferido na zona norte de São Paulo", abaixo de "Aeronáutica muda regra para vôos; Guarulhos tem atrasos" e "Carro em chamas se choca contra terminal de aeroporto de Glasgow, no sul da Escócia".
No Último Segundo, do iG, ocupa apenas o quinto posto no ranking do que deve ser interessante para o leitor, sob o título "Chacina deixa seis mortos na zona norte de São Paulo". A manchete do portal reflete, é claro, a preocupação maior de grande parcela da população da terra do futebol e da aviação civil: "Mau tempo provoca atrasos em 36,1% dos vôos no País".
Enquanto o Terra, cuja redação fica em São Paulo, simplesmente ignora o assunto na home (mas dá a imprescindível notícia de que a "namorada de filha de Gretchen estrela filme pornô"), o Globo Online, sediado a 400 quilômetroes de distância, destaca-o, mais para baixo na página: "Chacina em SP: 6 mortos na zona norte da capital". O portal carioca preferiu enfatizar, em sua manchete, o nacionalíssimo "Quase metade dos vôos está atrasada".
Jornalismo de interesses
Voltemos ao início deste artigo. Após breve exame das duas notícias, poderemos chegar à conclusão de que a distinção objetiva entre um e outro crime contra a vida será tão-somente o local em que a chacina foi praticada.
Jornalismo não se faz, contudo, apenas com objetividade, como se tem apregoado aqui e ali, felizmente com menos entusiasmo do que há alguns anos. Jornalismo se faz é com a subjetividade de quem valora a informação em nome de interesses, próprios e alheios. Tais interesses (aqueles que se aplicam pelos jornalistas) se subordinam a um conjunto de valores e de outros interesses, que se determinam pelos objetivos da empresa. Esse arco de valores e interesses também é conhecido como linha editorial.
Na esteira desse pensamento, nada mais certo dizer que a escolha da notícia deve se coadunar com o interesse do próprio público. No caso em questão, basta dizer que os leitores da internet viajam de avião e não dedicam grande atenção ao que possa acontecer com os jovens de uma favela da Vila Albertina. Mas seriam mais sensíveis se o mesmo fato se desse na glamourosa e, não menos importante, simbólica Avenida Paulista. Assim como uma chacina no Rio é "mais importante" do que uma que seja cometida em São José dos Campos.
Por tudo isso, é correto dizer que o jornalista faz as vezes de mediador de interesses: os seus, os da empresa e os do leitor. Note-se como é difícil, por princípio, contemplar os valores de toda a sociedade.
Difícil, sim, mas não impossível. O jornalista deve perseguir e exercitar uma visão sócio-antropológica em face do cotidiano. Tem obrigação de voar como a águia, não como a galinha, ciente de que o que acontece na Vila Albertina é apenas uma fração de um problema maior, que, mais dia menos dia, poderá se apresentar, se não na Avenida Paulista, no quintal da sua própria casa (por ironia, aqui retornamos ao interesse individual, que forçosamente se identifica com o coletivo).
Precisamos acordar deste sonho de grandeza a que nos habituamos, posto que inconscientemente, entorpecidos pela sensação de que estamos à margem ou, mais grave, acima dos interesses implícitos no empenho pela preservação dos direitos fundamentais da humanidade, entre os quais se impõe, soberano, o direito à vida.
Por José Paulo Lanyi em 3/7/2007
Pense comigo, ao analisar estas duas notícias:
1. Chacina em São Paulo deixa seis mortos e um ferido
"A nona chacina deste ano na capital – e a segunda maior – aconteceu na madrugada deste sábado, na Avenida Paulista, região central da cidade. Sete rapazes, que conversavam junto a algumas motocicletas, foram obrigados por um grupo a colocar as mãos ao alto e encostar-se em uma parede no Masp. Em seguida, os criminosos dispararam contra todos, atingindo a maioria na cabeça. Eles foram socorridos no Hospital das Clínicas, onde seis não resistiram e acabaram morrendo. Uma das vítimas foi baleada apenas nas costas e sobreviveu. "
2. Chacina em São Paulo deixa seis mortos e um ferido
"A nona chacina deste ano na capital – e a segunda maior – aconteceu na madrugada deste sábado, na Rua Bittencourt da Silva, na Vila Albertina, zona norte. Sete rapazes, que conversavam junto a algumas motocicletas, foram obrigados por um grupo a colocar as mãos ao alto e encostar-se em uma parede. Em seguida, os criminosos dispararam contra todos, atingindo a maioria na cabeça. Eles foram socorridos no Hospital do Mandaqui, onde seis não resistiram e acabaram morrendo. Uma das vítimas foi baleada apenas nas costas e sobreviveu."
Qual a diferença entre os dados objetivos de uma e os da outra informação? O local. Nada mais do que isso.
A primeira foi inspirada na segunda e é uma evidente peça de ficção. Não fosse, o país inteiro estaria estarrecido e irremediavelmente consternado em meio à profusão de notícias e análises sobre esse episódio.
A segunda é real e foi publicada com a Agência EFE pelo portal do Estadão. Neste exato instante em que escrevo, é apenas a terceira em ordem de importância no site, abaixo da manchete, "Neblina e pane em radar causam atrasos em aeroportos de SP", e de outra chamada sobre segurança, "Força Nacional continuará no Rio após o Pan, diz secretário".
Na Folha Online, também vem em terceiro lugar, sob o título "Chacina deixa 6 mortos e um ferido na zona norte de São Paulo", abaixo de "Aeronáutica muda regra para vôos; Guarulhos tem atrasos" e "Carro em chamas se choca contra terminal de aeroporto de Glasgow, no sul da Escócia".
No Último Segundo, do iG, ocupa apenas o quinto posto no ranking do que deve ser interessante para o leitor, sob o título "Chacina deixa seis mortos na zona norte de São Paulo". A manchete do portal reflete, é claro, a preocupação maior de grande parcela da população da terra do futebol e da aviação civil: "Mau tempo provoca atrasos em 36,1% dos vôos no País".
Enquanto o Terra, cuja redação fica em São Paulo, simplesmente ignora o assunto na home (mas dá a imprescindível notícia de que a "namorada de filha de Gretchen estrela filme pornô"), o Globo Online, sediado a 400 quilômetroes de distância, destaca-o, mais para baixo na página: "Chacina em SP: 6 mortos na zona norte da capital". O portal carioca preferiu enfatizar, em sua manchete, o nacionalíssimo "Quase metade dos vôos está atrasada".
Jornalismo de interesses
Voltemos ao início deste artigo. Após breve exame das duas notícias, poderemos chegar à conclusão de que a distinção objetiva entre um e outro crime contra a vida será tão-somente o local em que a chacina foi praticada.
Jornalismo não se faz, contudo, apenas com objetividade, como se tem apregoado aqui e ali, felizmente com menos entusiasmo do que há alguns anos. Jornalismo se faz é com a subjetividade de quem valora a informação em nome de interesses, próprios e alheios. Tais interesses (aqueles que se aplicam pelos jornalistas) se subordinam a um conjunto de valores e de outros interesses, que se determinam pelos objetivos da empresa. Esse arco de valores e interesses também é conhecido como linha editorial.
Na esteira desse pensamento, nada mais certo dizer que a escolha da notícia deve se coadunar com o interesse do próprio público. No caso em questão, basta dizer que os leitores da internet viajam de avião e não dedicam grande atenção ao que possa acontecer com os jovens de uma favela da Vila Albertina. Mas seriam mais sensíveis se o mesmo fato se desse na glamourosa e, não menos importante, simbólica Avenida Paulista. Assim como uma chacina no Rio é "mais importante" do que uma que seja cometida em São José dos Campos.
Por tudo isso, é correto dizer que o jornalista faz as vezes de mediador de interesses: os seus, os da empresa e os do leitor. Note-se como é difícil, por princípio, contemplar os valores de toda a sociedade.
Difícil, sim, mas não impossível. O jornalista deve perseguir e exercitar uma visão sócio-antropológica em face do cotidiano. Tem obrigação de voar como a águia, não como a galinha, ciente de que o que acontece na Vila Albertina é apenas uma fração de um problema maior, que, mais dia menos dia, poderá se apresentar, se não na Avenida Paulista, no quintal da sua própria casa (por ironia, aqui retornamos ao interesse individual, que forçosamente se identifica com o coletivo).
Precisamos acordar deste sonho de grandeza a que nos habituamos, posto que inconscientemente, entorpecidos pela sensação de que estamos à margem ou, mais grave, acima dos interesses implícitos no empenho pela preservação dos direitos fundamentais da humanidade, entre os quais se impõe, soberano, o direito à vida.
domingo, 1 de julho de 2007
AQUI JAZ UM BLOG ...
Queridos confrades,
Solicito aos que entrarem no blog que façam um comentário nesta postagem, nem que seja o próprio nome, para que eu saiba qual a procura e interesse em continuá-lo. Lembro que todos podem postar, logo não há como reclamar que tenho colocado textos chatos e longos ...
Abraços
Walter
Solicito aos que entrarem no blog que façam um comentário nesta postagem, nem que seja o próprio nome, para que eu saiba qual a procura e interesse em continuá-lo. Lembro que todos podem postar, logo não há como reclamar que tenho colocado textos chatos e longos ...
Abraços
Walter