Em homenagem à Raquel, segue um trecho da reportagem feita pelo jornalista Marcelo Abreu do Correio, no dia 31 de julho, sobre o ganhador da Mega-Sena. Vocês leram??? Eu achei muito engraçada! É incrível como ele tem o poder de transformar um assunto não tão interessante em algo gostoso de ler! Quem não viu ainda, divirta-se.
Beijos!!!
Cadê o cabra sortudo?
Todos os jumentos
Como não se paga nada para mudar a vida em pensamento, o povo que passou pela QE 19 do Guará e as pessoas que trabalham perto da loteria aproveitaram para imaginar o que fariam se fossem o mais novo milionário da cidade. A vendedora Cosma de Assis, potiguar de 55 anos, não hesita na primeira aquisição. “Compraria óculos novos. Olha o meu, moço, todo remendado com arame. A lente cai toda hora”, ri, gostosamente. E começa a contar história: “Tô igual aquele homem do Goiás que, depois de ganhar sozinho na loteria esportiva, perguntou se o dinheiro dava pra comprar uma dentadura. Ah, meu pai!”.
A cearense Aliene Bizerra (com i mesmo), 56 anos, dona da Lojinha da Ene, não hesita: “Compraria essas duas casinhas daí da frente e faria um lugar para receber pessoas idosas”. Depois, olha o bloquinho de anotação do repórter e se espanta: “E tu entende depois isso tudo?”. Bem-humorada, a dona do armarinho se dana a falar: “Lá em casa, somos 20 irmãos. Não deu nenhum corno, nenhuma quenga, nenhum bandido. Meu pai criou a gente pra ser do bem, na chibata, na peia.”. E o resto do dinheiro? “Ah, meu filho, ia fazer tanta coisa. Ia ajudar muita gente. Mas nada ia me fazer deixar Brasília. Essa cidade jorrou leite e mel na minha vida”.
Wilson da Silva, 24 anos, três filhos, trabalha na Mercearia e Sacolão VVR. “Se eu fosse o ganhador? Já tinha rumo certo o dinheiro. Comprava tudo de jumento e voltava pro Ceará. Ia ficar rico.” Nesse momento, o paraibano Manoel Azevedo, de 82 anos, entra na Lotérica Supremo. Um gaiato grita que ele ganhou o prêmio da Mega-Sena. O aposentado devolve: “Eu juro é de pé juntinho. Se eu tivesse ganhado, tu acha que ainda tava aqui, moço?”.
Nem o carteiro Nerisvaldo Santos, de 49 anos, há 10 trabalhando na quadra e conhecidíssimo na região, escapou. “Eu, rico? Nem jogar eu jogo. Sou evangélico e, para mim, a riqueza no mundo é passageira. O que importa é a vida eterna com Deus, o que vem depois da morte”, diz ele, que mora em Santa Maria, pega dois ônibus para chegar ao Guará e anda 15km por dia entregando cartas. Depois da ligeira pregação e enquanto a morte não chega, o carteiro contemporiza: “Não sou favorável à pobreza, à miséria. Todo mundo precisa viver bem na terra.”.
E o povo não parava de passar na Lotérica Supremo. A pergunta era só uma: cadê o ganhador? “Cadê esse cabra sortudo?”, bradavam alguns. A cada minuto, as suspeitas recaíam sobre um morador. E o tititi só aumentava. A única certeza é a de que ele ainda não apareceu, para frisson e desespero dos comerciantes e moradores. E uma coisa não se pode negar: mesmo que ninguém venha a saber quem é o mais novo milionário da cidade, passar um dia na QE 19 do Guará II, diante de um fato inusitado desse, faz as coisas ficarem mais leves. Engraçadas mesmo. A capacidade das pessoas de rir delas mesmas talvez seja o grande segredo da vida. Que venham, então, mais prêmios da Mega-Sena. E mais histórias divertidas.
2 comentários:
olha, fica um texto mais próximo do povo, sim. Mas ao mesmo tempo, me parece que explora o simples e o povo de uma maneira que menospreza, com um olhar meio por cima, estereotipado . Como se essas pessoas fossem criaturas exóticas.
Essa discussao eh beeem polemica, mas eu gosto dele e gostei da homenagem, hehehehe. Entao, o que eu acho é que as vezes o jornalismo parece ser algo tão distante das pessoas, tão frio e desumano, que por mais que o Mareclo Abreu use clichês e etc, ele se aproxima mais de uma humanidade, que é dificil de encontrar hoje no jornalismo.
obs: Tivemos aula com o Leandro Fortes hoje, e só Deus sabe como eu me livrarei de usar tanto "que" nos textos, rs, como vocês podem verificar acima. Esses vícios de linguagem são terriveis...
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