domingo, 24 de junho de 2007

TV deve ser apartidária, diz Markun

Novo presidente da Fundação Padre Anchieta cobra recomposição de verbas junto ao Estado e tenta aproximação com Lula

Jotabê Medeiros

Paulo Markun oferece ao interlocutor, mas adverte: é o último cafezinho servido na bandeja na sala da diretoria - agora ele também vai cortar o café. Daqui em diante, só pagando. A sala do presidente também se despede de suas funções: doravante, tudo funciona em colegiado, todos numa só sala. É parte da blitz de austeridade que o novo presidente da Fundação Padre Anchieta, gestora da TV Cultura, anuncia na chegada ao cargo.

'O exemplo tem de vir de cima', justifica Markun, 36 anos de jornalismo, em entrevista ao Estado na manhã de quinta-feira. Antes de falar, fez questão de mostrar a nova 'geopolítica' da fundação - a sala espartana onde se reúnem os diretores, os chefes de núcleo, a marcenaria, a sala de figurinos e de costura. Ele pretende usar o know-how da emissora nas áreas de figurinos e cenários e criar centros de formação, em convênios com a Secretaria de Estado da Educação.

Os planos já são ambiciosos: em 2008, nas celebrações dos 200 anos da chegada da família real ao Brasil, vai ser composto um pool inédito de emissoras públicas para a produção de uma série em cinco capítulos. A TV Cultura encabeça o projeto, que está orçado inicialmente em R$ 6 milhões.

O sr. já fez um diagnóstico. Qual é o nó principal a ser resolvido nessa primeira fase de sua gestão?

Mais do que a austeridade, há dois aspectos que são relacionados entre si. Aqui era uma TV que tinha uma fundação como seu braço burocrático, e a gente vai inverter. É uma fundação que tem uma TV como seu braço midiático. É óbvio que para o grande público, se fala em Fundação Padre Anchieta, todo mundo conhece a TV e ignora a fundação. E isso não vai mudar. Agora, essa distorção provocava isso que você viu aqui: uma estrutura burocrática muito grande, muito lenta, e muito distanciada da televisão. Não tinha resposta automática, o que é necessário ter, para assegurar suas decisões. As atividades-meios eram mais importantes que as atividades-fins. O novo modelo de gestão já estou implantando. Que é descentralizar, agilizar, reunir em forma de colegiado, e ao mesmo tempo com funcionamento hierárquico, o que pode parecer um contra-senso. Mas não é assembléia, existe uma hierarquia. Outra coisa necessária é buscar mais investimentos. Estamos fazendo isso junto ao governo do Estado, anunciantes privados e prestadores de serviços. Para que possamos modernizar, enfrentar a digitalização e ter mais recursos para fazer as coisas.

Essa história dos recursos sempre ocupou a maior parte do tempo de todos seus antecessores no cargo.

O que estou pleiteando, junto ao governo do Estado, à Secretaria da Cultura, é o simples recomposição dos recursos históricos. No final do governo Alckmin e no primeiro do governo Serra, há uma situação na qual você registra menos R$ 10 milhões em relação à média do período entre 1999 e 2007. Isso foi compensado pelo aumento de recursos próprios: esforço de marketing, venda de publicidade, de serviços, patrocínio. Quero voltar à série histórica. Não é possível isso. Estou argumentando e tenho condições de explicar o que vamos fazer com esse dinheiro. Vamos melhorar a qualidade do produto. Sem qualquer delírio. Tenho o compromisso verbal do secretário João Sayad, que interpreta a posição do governo, de que isso vai acontecer. Isso foi dito aqui na reunião do conselho no qual tomei posse. Isso já dá mais um gás. Mas vou buscar recursos do governo federal, apoios e patrocínios, prestação de serviços.

O sr. mencionou o governo federal. Já ouvi de outros presidentes da fundação reclamações em relação à atitude do governo com a TV Cultura. O Franklin Martins agora é um canal mais aberto?

Tive duas conversas com o ministro Franklin Martins. Nós fomos colegas de TV, temos uma boa relação pessoal. Tudo que tenho ouvido dele, o discurso em relação à TV pública federal é muito compatível com aquilo que a fundação pratica. Mas ainda é só discurso, temos de esperar para ver. Mas em relação à distribuição de verbas federais para as TVs públicas, ele e o presidente Lula já assumiram, no Fórum da TV Pública, que será diferente de agora em diante.

Há um estigma de que as TVs públicas são partidarizadas. A Cultura recebe cerca de R$ 80 milhões do governo estadual, é ligada portanto ao governo. Qual é o grau de independência possível nessa relação?

Com relação a episódios do passado, eu posso falar só pelo Roda Viva. E tenho orgulho da maneira como (o programa) se comportou. De modo geral. Pode ter, ali e aqui, havido algum tipo de deslize. Mas eu acho que foi equilibrado, mesmo na cobertura da crise, do mensalão. Não posso falar pelo resto, porque não participei das decisões. Com relação à autonomia e independência da fundação, isso tem de ser assegurado pelo conselho, que tem apenas um terço de representantes do governo de São Paulo. A esse conselho, eu apresentei uma plataforma, que previa que vamos cumprir o que está na Constituição: que a televisão tem de ser apartidária, distante de grupos políticos, religiosos, culturais, etc. Confio nas informações do secretário, que transmite a posição do governador, que não terá nenhuma interferência.

O sr. já teve uma conversa com o governador Serra?

Estive com ele, publicamente, na Virada Cultural. Conversamos rapidamente, eu já era o candidato indicado, tive todo o apoio dos conselheiros que são ligados ao governo. Mas não houve conversa particular nenhuma. Vou pedir uma audiência para ele para tratar das questões institucionais, mas quero chegar a ele com uma proposta muito clara. Não se trata de oferecer nada para o governo, mas para a sociedade. Essa idéia da construção da TV pública é muito antiga, é uma batalha. Não terminou. Muitas vezes há setores, dentro do governo, que encaram assim: 'Mas aquilo ali é nosso, somos nós que pagamos.' Primeiro, é que hoje em dia é apenas 50% dos recursos, acho que tem de ser mais. Depois, que isso não é do governo, é da sociedade. Não é uma área de oposição a qualquer governo, mas a favor do cidadão, da cidadania.

Recebemos cartas no jornal de leitores que acham que certo tipo de publicidade descaracterizou a TV Cultura. Como vê essa questão?

Nós não vendemos audiência, nós vendemos uma causa, que é ajudar a TV Cultura. Nesse processo, em razão até mesmo das dificuldades de recursos, em certos momentos acho que a TV pode ter ido com muita sede ao pote, anunciar produtos que não têm a ver. Precisamos aperfeiçoar o modelo que vigora, para buscar uma definição mais clara.

A minissérie A Pedra do Reino, na Rede Globo, levantou uma discussão sobre como se deve avançar na busca da qualidade na linguagem da TV. O sr. viu a série?

Não vi a série, infelizmente. A Globo, em mais de uma ocasião, já fez projetos, quase sempre com o mesmo diretor, de qualidade excepcional. Acho que ela dá uma contribuição à cultura brasileira quando faz isso. Só gostaria que isso acontecesse também aqui, e não só lá. Acho que já está acontecendo. É o caso do projeto Direções, com supervisão do Antunes Filho. A Cultura sempre foi um espaço de ousadia e inovação. De um tempo para cá, ela perdeu um pouco isso, talvez buscando melhores resultados de audiência, não sei. O que tenho usado como mantra é o Artigo 3º do Estatuto: contribuir para a formação crítica do homem e o exercício da cidadania. Senão a gente perde o rumo. No ano que vem, vamos intensificar a busca da inovação, da ousadia, mesmo com risco de errar.

Audiência não é uma preocupação sua? Nunca?

É preciso buscar a maior amplitude de público possível, mas dentro da missão. O Vlado (Vladimir Herzog) e o Fernando Jordão tinham uma frase: 'Que adianta fazer uma TV que ninguém vê?' Não adianta. Mas também que adianta fazer uma TV que é exatamente igual à TV comercial? Também não adianta. Cancelei o Sumo TV porque não tem a ver com o escopo do nosso projeto, que não é meu, é do estatuto da fundação. Se a fundação incorporar esse conceito, e o guardião disso é a direção, fica tudo mais fácil.

Outra imagem clássica da TV pública é que é um cabide de empregos. Suas primeiras medidas parecem corroborar isso: cortou cargos, demitiu. O sr. acha que a TV Cultura está gorda?

Com certeza não está no ponto. O que eu não tenho dito, me posicionando irresponsavelmente, é avaliar o quanto, aonde está gorda e como fica mais magra. Avaliar o corpo todo que está aqui. Tenho alguma experiência na vida privada como empresário, e muita, como jornalista, de acompanhar o processo de cortes. Em muitas delas, esse corte é feito a partir de um porcentual, 10%, 20%, e aí se corta indiscriminadamente. Aqui há pessoas de talento, de extrema competência, muitas delas subutilizadas; e também pessoas e setores que já poderiam estar aposentados. Precisamos saber qual o projeto, que pessoas precisamos. As iniciativas que tenho tomado, nesse primeiro momento, é dar o exemplo de cima para baixo. Aqui, na chamada alta administração, que é um termo horrível, você tem condições de ser mais ágil, mais eficiente, com menos gente.

Drummond

Mãos dadas

Não serei o poeta de um mundo caduco.
Também não cantarei o mundo futuro.
Estou preso à vida e olho meus companheiros
Estão taciturnos mas nutrem grandes esperanças.
Entre eles, considere a enorme realidade.
O presente é tão grande, não nos afastemos.
Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas.
Não serei o cantor de uma mulher, de uma história.
Não direi suspiros ao anoitecer, a paisagem vista na janela.
Não distribuirei entorpecentes ou cartas de suicida.
Não fugirei para ilhas nem serei raptado por serafins.
O tempo é a minha matéria, o tempo presente,
os homens presentes,a vida presente.

quarta-feira, 6 de junho de 2007

Habermas - Folha de S.Paulo - 26 de maio


O valor da notícia

A imprensa de qualidade desempenha um papel de liderança: rádio e TVs dependem de temas e contribuições provenientes do jornalismo "argumentativo"

JÜRGEN HABERMAS

Semanas atrás, a página de economia do jornal alemão "Die Zeit" assustou seus leitores com a manchete "O quarto poder corre perigo?". Tratava-se da notícia alarmante de que o "Süddeutsche Zeitung" rumava para um futuro econômico de incertezas.

A maioria dos acionistas quer se ver livre do jornal; caso as coisas se encaminhem para um leilão, é possível que um dos dois bons diários supra-regionais da Alemanha [o outro é o "Frankfurter Allgemeine"] caia nas mãos de investidores privados, fundos de investimento ou conglomerados de mídia.

Haverá quem diga: "Business as usual" [negócios, como sempre]. O que poderia haver de alarmante no fato de que os proprietários queiram fazer uso de seu direito de se desfazer de seus negócios, sejam quais forem seus motivos?

A crise dos jornais, desencadeada no começo de 2002 pelo colapso do mercado publicitário, ficou para trás -no "Süddeutsche Zeitung" e em outros órgãos de imprensa da mesma dimensão. As famílias que agora se dispõem a vender sua participação detêm 62,5% das ações e escolheram um momento propício.

Apesar da concorrência digital e dos novos hábitos de leitura, os lucros vêm aumentando.

Deixando de lado a boa conjuntura econômica, os lucros se devem sobretudo a medidas de racionalização com impacto direto sobre o desempenho e a margem de manobra das redações. Notícias bombásticas à maneira do jornalismo norte-americano ditam a tendência atual.

Assim, por exemplo, o "Boston Globe", um dos poucos jornais de centro-esquerda dos EUA, teve que renunciar a todos os seus correspondentes no estrangeiro, enquanto os grandes encouraçados da imprensa nacional -como o "Washington Post" e o "New York Times"- temem a capitulação diante de fundos ou conglomerados ávidos por "sanear" jornais em vista de taxas de lucro descabidas; no caso do "Los Angeles Times", esse já é fato consumado.

Jugo do lucro
Há três semanas, o "Die Zeit" voltou à carga, falando de um "ataque de Wall Street à imprensa dos EUA".

O que há por trás desse tipo de manchete? Certamente, o temor de que os mercados não façam justiça à dupla função que a imprensa de qualidade até hoje desempenhou: atender à demanda por informação e formação, sem comprometer taxas de lucro aceitáveis.

Mas os lucros em alta não serão uma confirmação de que jornais "enxutos" satisfazem melhor os desejos de seus consumidores?

Conceitos vagos como "profissional", "arrojado" ou "sério" não servem apenas para velar a preeminência concedida ao leitor adulto, que sabe o que quer?

A imprensa terá o direito de, sob o pretexto da "qualidade", cercear a liberdade de escolha de seus leitores?

Por que forçar a leitura de reportagens áridas em vez de "infotainment" [fusão, em inglês, das palavras "information" e "entertainment", informação e entretenimento], comentários objetivos e argumentos circunstanciados, ao invés de encenações apelativas de personalidades e acontecimentos?

A objeção que se manifesta nessas questões se baseia na suposição polêmica de que os consumidores escolhem com autonomia, segundo suas preferências pessoais. Mas essa espécie de verdade acaciana certamente induz ao erro quando se trata de uma mercadoria tão peculiar quanto a informação política e cultural. Pois essa mercadoria a um só tempo atende e transforma as preferências de seus consumidores.

Formação em massa
Não há dúvida de que leitores, ouvintes e espectadores seguem suas preferências ao fazer uso dos meios de comunicação: querem se divertir ou se distrair, querem se informar ou tomar parte em debates públicos.

Mas, quando se interessam por um programa político ou cultural, quando recebem a "bênção matinal realista" da leitura de jornais, todos se expõem -com alguma medida de autopaternalismo- a um processo de aprendizado de resultados imprevisíveis.

No curso de uma leitura, novas preferências, convicções ou juízos podem se formar.

A metapreferência que orienta uma tal leitura se dirige então àquelas prioridades que se exprimem na auto-imagem de um jornalismo independente e que fundamentam o prestígio da imprensa de qualidade.

A polêmica sobre o caráter peculiar da mercadoria "informação e formação" faz pensar no slogan que fez furor quando do surgimento da televisão: essa nova mídia não seria mais que "uma torradeira com imagens".

Pensava-se que a produção e o consumo de programas televisivos podiam ser deixados inteiramente a cargo do mercado. Desde então, as empresas de comunicação cuidam de fornecer programas para seus espectadores enquanto vendem a atenção do público a seus anunciantes.

Sempre que imperou sem peias, esse modo de organização causou danos políticos e culturais. O sistema "híbrido" de televisão [na Alemanha] é uma tentativa de remediar o mal.

E as leis locais, as decisões de tribunais federais e os princípios de programação das emissoras públicas refletem a noção de que as mídias eletrônicas não devem satisfazer apenas as necessidades mais comercializáveis dos consumidores.

Ouvintes e espectadores não são apenas consumidores mas também cidadãos com direito à participação cultural, à observação da vida política e à voz na formação de opinião.

Com base nesses direitos, não é o caso de deixar programas voltados a tais necessidades fundamentais da população à mercê da conveniência publicitária ou do apoio de patrocinadores.

Mais ainda, as taxas que financiam esses serviços também não devem variar ao sabor dos orçamentos locais, isto é, da conjuntura econômica -é o que argumentam algumas emissoras num processo contra os governos locais, em trâmite no Supremo Tribunal Federal alemão.

A idéia de uma reserva pública voltada para a mídia eletrônica pode ser interessante. Mas algo assim poderia servir de modelo para a organização de jornais e revistas "sérios", como o "Süddeutsche Zeitung" ou o "Frankfurter Allgemeine Zeitung", "Die Zeit" ou "Der Spiegel", para não falar das revistas mensais mais ambiciosas?

Efeito político
O resultado de um estudo sobre fluxos de comunicação pode ter interesse nesse contexto: ao menos no âmbito da comunicação política -ou seja, para o leitor enquanto cidadão-, a imprensa de qualidade desempenha um papel de "liderança": o noticiário político do rádio e da televisão depende em larga escala dos temas e das contribuições provenientes do jornalismo "argumentativo".

Suponhamos que uma dessas redações caia nas mãos de investidores que trabalham com lucros rápidos e prazos curtos: a reestruturação e o enxugamento nesses lugares estratégicos não tardarão a pôr em risco os padrões jornalísticos e a afetar em cheio a vida política.

Pois a comunicação pública perde vitalidade discursiva quando lhe falta informação fundamentada ou discussão vivaz, coisas que não se obtêm sem custos.

A esfera pública não teria mais como opor resistência às tendências populistas e não seria mais capaz de desempenhar funções que lhe cabem no quadro de um Estado democrático de Direito.

Vivemos em sociedades pluralistas. O processo de decisão democrático só pode ultrapassar as cisões profundas entre visões de mundo opostas se houver algum vínculo legitimador aos olhos de todos os cidadãos.

O processo de decisão deve conjugar inclusão (isto é, a participação universal em pé de igualdade) e condução discursiva do conflito de opiniões.

Pois tão-somente a discussão deliberativa fundamenta a suposição de que, no longo prazo, os processos democráticos propiciam resultados mais ou menos racionais.

A formação de opinião por via democrática tem uma dimensão epistêmica, uma vez que envolve a crítica de afirmações e juízos errôneos.

Esse é o papel de uma esfera pública dotada de vitalidade discursiva.

Esse papel se evidencia intuitivamente tão logo se tenha em mente a diferença entre o conflito público de opiniões concorrentes e a divulgação de pesquisas de opinião.

Opiniões que se formam por meio de discussão e polêmica são, a despeito de toda dissonância, filtradas por informações e argumentos, enquanto as pesquisas de opinião apenas invocam opiniões latentes em estado bruto ou inerte.

Mediação
É claro que os fluxos díspares de comunicação numa esfera pública dominada pelos meios de comunicação de massa não permitem o tipo de discussão ou consulta regrada que tem lugar em tribunais ou sessões parlamentares.

Mas isso também não é necessário, pois a esfera pública é apenas um dos elos relevantes: ela faz as vezes de mediação entre discursos e discussões nos foros do Estado, de um lado, e as conversas episódicas ou informais de eleitores potenciais, de outro.

A esfera pública dá sua contribuição à legitimação democrática da ação estatal ao selecionar temas de relevância política, elabora-os polemicamente e os vincula a correntes de opinião divergentes.

Por essa via, a comunicação pública estimula e orienta a formação da opinião e do voto, ao mesmo tempo em que exige transparência e prontidão do sistema político.

Sem o impulso de uma imprensa voltada à formação de opinião, capaz de fornecer informação confiável e comentário preciso, a esfera pública não tem como produzir essa energia.

Quando se trata de gás, eletricidade ou água, o Estado tem a obrigação de prover as necessidades energéticas da população.

Por que não seria igualmente obrigado a prover essa outra espécie de "energia", sem a qual o próprio Estado democrático pode acabar avariado?

O Estado não comete nenhuma "falha sistêmica" quando intervém em casos específicos para tentar preservar esse bem público que é a imprensa de qualidade.

Melhores resultados
O problema é apenas de ordem pragmática: como se alcançam os melhores resultados?Em certo momento, o governo [do Estado] de Hessen concedeu ao jornal "Frankfurter Rundschau" um crédito subsidiado -sem sucesso. Mas as subvenções diretas são apenas um dos meios disponíveis.

Outros caminhos são as fundações com participação pública ou a renúncia fiscal para famílias envolvidas no ramo.

Nenhuma dessas soluções está livre de problemas. E ainda é preciso aclimatar a idéia de subvenções a jornais e revistas.

Em termos históricos, a idéia de regular o mercado da imprensa tem alguma coisa de contra-intuitivo. Afinal, o mercado foi outrora o cenário em que idéias subversivas puderam se emancipar da repressão estatal.

Mas o mercado só é capaz de desempenhar essa função se as determinações econômicas não penetrarem nos poros dos conteúdos culturais e políticos dispersos no mercado.

Agora, como antes, a crítica adorniana da indústria cultural constitui o ponto central. A observação cética é indispensável, pois nenhuma democracia pode se dar ao luxo de uma falha de mercado nesse setor.

JÜRGEN HABERMAS (1929) é um dos principais filósofos e sociólogos vivos. Colaborou entre 1955 e 1959 com Adorno e Horkheimer no Instituto de Pesquisa Social, em Frankfurt, e lecionou nas universidades de Heidelberg e de Frankfurt. Entre suas obras de maior impacto traduzidas para o português estão "Mudança Estrutural na Esfera Pública", "Direito e Democracia" e "Consciência Moral e Agir Comunicativo" (Tempo Brasileiro). Este texto foi publicado originalmente no jornal alemão "Süddeutsche Zeitung".
Tradução de Samuel Titan Jr.

terça-feira, 5 de junho de 2007

IMPRENSA E MERCADO


O JORNALISMO que se propõe a manter um compromisso público com a qualidade do que divulga encontra-se sob pressão num mercado invadido por empresas preocupadas com corte de custos e com lucros imediatos.
A idéia, que não é nova, foi elaborada pelo filósofo alemão Jürgen Habermas, um dos mais renomados pensadores vivos, no artigo "O Valor da Notícia", publicado no último domingo nesta Folha. Habermas faz coro aos que identificam, no público atual, um interesse decrescente por temas institucionais e uma curiosidade intensa por celebridades e entretenimento.
Na conjugação das duas tendências, os veículos voltados ao jornalismo "sério" estariam, na visão do filósofo, sob grave ameaça. Já pelos termos em que o problema é formulado, vê-se que Habermas endossa uma distinção demasiado estanque entre jornalismo "de qualidade" e "de entretenimento".
Há gradações entre um modelo e outro. E, se um jornalismo superficial, irresponsável e barato parece ganhar espaço no conjunto da mídia, por outro lado o modelo enaltecido por Habermas é uma torre de marfim da qual se afastam parcelas expressivas de potenciais consumidores de informação e opinião.
O verdadeiro desafio para o jornalismo de qualidade é o de assegurar seus compromissos básicos (veracidade, relevância pública dos temas e enfoques, debate de idéias) mas ao mesmo tempo renovar-se para cativar leitores que também mudaram. A vulnerabilidade maior do texto, no entanto, está na solução sugerida. Habermas acredita que veículos de comprovada atuação "séria" -como julgá-lo? quem julgaria?- devam merecer subsídio do Estado, por representarem valores de interesse público. Solução inusitada, que faz pensar na estatolatria que tantas vezes se atribuiu à mentalidade alemã.
Seria um passo temerário. Até o mais cauteloso modelo de canalização de fundos públicos poderia gerar dependência dos veículos beneficiados em relação ao Estado, eventualmente ao governo de plantão.
A imprensa criou suas primeiras raízes na praça livre, espaço de circulação de bens e idéias que se formou à revelia do controle estatal. De resto, o jornalismo de qualidade já enfrentou com êxito apreciável a competição oriunda de outras ondas de inovação tecnológica e de sedução fácil do público, a exemplo do advento do rádio e da TV.
fonte: Texto do editorial da folha de São Paulo - sábado 02 de junho de 2007

segunda-feira, 4 de junho de 2007

Algumas intromissões são mais intromissões do que outras?

ANÁLISE DA NOTÍCIA
Senado aprovou resolução defendendo retorno da RCTV, na Venezuela. Reação de Chávez é criticada por desrespeitar Congresso e intrometer-se em assuntos internos do Brasil. E o Senado não se manifestou sobre assuntos internos da Venezuela?
Marco Aurélio Weissheimer - Carta Maior
Está merecendo grande repercussão, por parte da imprensa brasileira, a declaração do presidente da Venezuela, Hugo Chávez, que acusou senadores brasileiros de agirem como “papagaios” dos interesses dos Estados Unidos. A reação de Chávez foi uma resposta à decisão votada no Senado defendendo a devolução da concessão pública à RCTV. O presidente venezuelano está sendo acusado de desrespeito e intromissão indevida em assuntos internos do Congresso brasileiro. O curioso é que ninguém diz o mesmo em relação à decisão do Senado sobre um assunto interno da Venezuela. O que vale de um lado parece não valer de outro. E por falar em intromissões e declarações sobre assuntos de outros países, vale a pena ler as declarações do ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF), que colocou em suspeição a existência de um estado de direito na Bolívia.
Gilmar Mendes pediu vista dos autos do processo de extradição requerido pelo governo da Bolívia contra John Axel Rivero Antero, acusado de tráfico de cocaína, formação de quadrilha e confabulação. O julgamento do processo de extradição foi suspenso em função do pedido do ministro que suscitou “a conveniência ou não da extradição, face ao que estaria ocorrendo no país vizinho”, conforme notícia publicada no site do STF. “A minha dúvida hoje é sobre a possibilidade de se extraditar alguém para a Bolívia, tendo em vista os padrões do estado de direito naquele país, pois há notícias, na imprensa internacional, da prisão de membros do Tribunal Constitucional, razão pela qual peço vistas dos autos”, justificou Gilmar Mendes. Antero deverá aguardar preso em território brasileiro a conclusão do julgamento do pedido de extradição.
A polêmica com Chávez
O Senado brasileiro aprovou, quarta-feira (28), um “apelo” em favor da reabertura da RCTV, cuja concessão púbica expirou no último domingo e não foi renovada pelo governo venezuelano. A moção foi aprovada por 15 senadores governistas e da oposição que criticaram a decisão do governo de Hugo Chávez. Por iniciativa do senador Eduardo Azeredo (PSDB-MG), a moção foi encaminhada à Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional. Os únicos votos contrários foram dos senadores José Nery (PSOL-PA) e Inácio Arruda (PcdoB-CE). Um dos mais exaltados críticos da decisão do governo venezuelano, o senador Heráclito Fortes (DEM-PI), presidente da Comissão de Relações Exteriores do Senado, chegou a defender que as empresas brasileiras deveriam deixar a Venezuela em função da não renovação da concessão da RCTV.
O presidente Lula mandou o Itamaraty convocar o embaixador da Venezuela no Brasil, Julio Garcia Montoya, para prestar esclarecimentos sobre as declarações de Chávez a respeito do Congresso brasileiro. O Itamaraty divulgou nota oficial manifestando a posição do presidente brasileiro sobre o episódio: “Tendo tomado conhecimento, em Londres, de declarações atribuídas ao Presidente Hugo Chávez a respeito do Congresso brasileiro, o Presidente Lula reafirmou seu total apoio às instituições brasileiras e expressou seu repúdio a manifestações que coloquem em questão a independência, a dignidade e os princípios democráticos, que norteiam essas instituições. Enquanto aguarda a transcrição das referidas declarações, o Presidente Lula determinou que o Ministério das Relações Exteriores convoque o Embaixador da Venezuela no Brasil para os indispensáveis esclarecimentos”.

domingo, 3 de junho de 2007

Confrades no Varjão


Neste sábado tivemos 4 confrades na ação de limpeza do Varjão. Na foto também está o sempre profissional Daniel Amador, aluno do 6º semestre noturno.


Não tenho qualquer dúvida que nas próximas ações teremos a equipe completa.


Abraços